quinta-feira, 5 de agosto de 2010

7ª SÉRIE - Geografia do Narcotráfico: A Economia Ilegal em Questão


A magnitude do tráfico internacional de drogas, em termos de lucratividade e uso do território, conclama a geografia a se ocupar, cada vez mais, da economia ilegal globalizada. Com base no crime organizado, começa a se esboçar no mundo inteiro, uma repartição de papéis geopolíticos e econômicos desempenhados por uma rede planetária por onde circulam drogas e capitais envolvendo regiões ou países produtores, fornecedores, distribuidores, consumidores, paraísos fiscais* e financeiros, etc.


O Dinheiro das Drogas
O negócio do narcotráfico movimenta, anualmente, algo em tomo de US$ 700 bilhões, se tornando assim, uma das atividades mais lucrativas da economia mundial.
O senso comum acredita que os maiores beneficiários dos lucros do narcotráfico são os países produtores. Nada mais errado. Os lucros gerados no mercado mundial das drogas são partilhados conforme as seguintes estatísticas, segundo o respeitável instituto francês "Observatoire géopolitique des drogues":

• 2 a 5%: Produtores
• 15%: Transformadores e Intermediários nacionais.
• 26%: Transportadores e Traficantes internacionais.
• 54%: Distribuidores nos países consumidores.

Tal divisão se explica pelo fato de o preço da droga variar segundo a sua rota, numa seqüência marcada por multiplicações vertiginosas.
Veja um exemplo de rota do entorpecente no mapa abaixo:


Exemplo 2: (valores em dólares!!) 250 quilos de folha de coca, necessários à fabricação de 1 quilo de cocaína, são comprados a US$ 75 a um plantador boliviano.
O quilo da cocaína será vendido na Colômbia ao preço de US$ 250 (entra em cena aí um multiplicador de 30).
Um consumidor francês pagará o equivalente a US$ 140 a grama de cocaína, ou seja, um quilo de cocaína em Paris (US$ 140.000) tem um preço multiplicado por 1866 vezes desde a venda das folhas de coca!

A extraordinária rentabilidade do negócio das drogas se deve, particularmente, ao sistema financeiro internacional dedicado à lavagem do dinheiro, que processa, segundo a ONU, US$300-600 bilhões por ano. Nos paraísos financeiros, a origem "suja" do dinheiro é encoberta através de operações bancárias que dificultam o rastreamento da moeda e passam a lhe atribuir um novo "certificado".
Parcela expressiva dos lucros do narcotráfico são aplicados em atividades econômicas legais, o que demonstra que a economia ilegal se serve da economia legal. Um dado sintomático a esse respeito vem da Confcommercio, uma das principais associações comerciais da Itália: cerca de 18% dos bares e sorveterias e 15% dos hotéis são controlados pelas máfias italianas, especialmente pela siciliana Cosa Nostra. Além disso, o crime organizado controla, nesse país, 70% da indústria do cimento e se faz presente em atividades como mercado de ouro e antiguidades, agências de viagens, oficinas mecânicas, lojas, etc.

OS "NÓS" DA REDE
Os circuitos que alimentam mundialmente a economia da droga envolvem a quase totalidade do planeta, articulando produção, distribuição e consumo. Destacam-se como países produtores de matérias primas vegetais:

                                                              cocaína pronta

a) Folhas de Coca: (matéria-prima para a cocaína): Colômbia, Peru e Bolívia. A área cultivada da Colômbia (que até inicio dos anos 90 era o terceiro maior produtor) aumentou sensivelmente nos últimos dez anos, fazendo da Colômbia o maior produtor mundial de folhas de coca. O Peru e a Bolívia, antes os maiores cultivadores, tiveram suas áreas de produção sensivelmente reduzidas nos últimos anos, em vista de cultivos alternativos desenvolvidos em regiões antes destinadas à coca.

b) Papoula: (matéria-prima para a heroína e outros opiáceos): Afeganistão, Paquistão, Mianmar (antiga Birmânia), Tailândia e Laos (estes três últimos formam o chamado Triângulo de Ouro asiático). A Colômbia também vem se destacando no cultivo de papoulas, face à nova estratégia dos cartéis de diversificar a produção de drogas (a heroína é o novo negócio colombiano).


A INSERÇÃO DO BRASIL NO COMÉRCIO INTERNACIONAL DE DROGAS.
O Brasil desempenha, fundamentalmente, a função de distribuidor, ou seja, de país-trânsito, em vista da pluralidade de rotas e meios oferecidos para o escoamento da cocaína colombiana.
No entanto, embora modestamente, o país já exerce outras funções na economia internacional da droga.
a) É um mercado de consumo em expansão (muito aquém, é verdade, dos EUA, Europa Ocidental ou Japão),
b) Fornecedor de insumos químicos (éter e acetona) à Colômbia para o refino da cocaína.
c) Produtor, no Amazonas e Rondônia, de uma variedade de coca (epadu) e maconha (sobretudo Pernambuco e Maranhão);
d) Centro de lavagem de dinheiro.

Dados fornecidos pela CPI do Narcotráfico, instalada no Brasil em 1999, revelam que cerca de US$ 40 bilhões oriundos do comércio das drogas são "lavados" no Brasil. A rede bancária brasileira, interligada por uma moderna infra-estrutura de telecomunicações, é um forte atrativo para o desenvolvimento de esquemas ilegais de remessas ao exterior e "lavagem" do dinheiro "sujo' (como explicar, por exemplo, a elevadíssima movimentação de cheques em pequenos centros urbanos do Norte e Centro-Oeste do país, cujas economias, muito modestas, não justificam tais transações?).
Além disso, a extensa fronteira com os países andinos produtores de drogas e a diversificação de vias de transporte (fluvial, terrestre, aéreo) viabiliza uma pluralidade de rotas, despistando a vigilância.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

8ª SÉRIES - A Europa Oriental mostra a falência do Stalinismo e não do Socialismo - Por Ernesto Mandel

O que está em crise na Europa oriental e na URSS não é o socialismo, que não existiu nunca aí. Não podemos declarar a extinção de uma empresa não existente.
O que está se desagregando é a "economia de comando", estreitamente ligada ao "Estado de comando", isto é, ao despotismo, à ditadura burocrática.
Os marxistas revolucionários descobriram que nunca houve "socialismo realmente existente" no Leste Europeu. Os mais exaltados vêm afirmando isso há várias décadas e ficam evidentemente satisfeitos quando muitos russos – ex-soviéticos - proclamam hoje que: "stalinismo e socialismo são incompatíveis; onde há stalinismo, não há socialismo; onde houver socialismo, não haverá stalinismo".


Em matéria de organização econômica, o problema é muito concreto.

O planejamento socialista é um esforço de desenvolvimento proporcional de todos os ramos da economia, de acordo com prioridades conscientemente determinadas. Ora, a burocracia soviética escolheu desde 1929 o caminho de desenvolvimento desproporcional. Seus abortos na Europa oriental seguiram no mesmo caminho.

As despesas atuais no setor de comércio, transportes, armazéns, consertos etc., constituem menos de 15% da renda nacional, enquanto os países capitalistas desenvolvidos consagram a elas 30% dos seus recursos ou mais. Resultado: em muitas cidades soviéticas, há uma loja de alimentação para vinte mil habitantes; isso torna as filas inevitáveis. Há perdas enormes o desperdício. A Ex-URSS produzia batatas em abundância. Mas 75% dessas batatas não chegavam ao consumidor normal. Resultado: há uma "economia paralela" amplamente difundida, com preços duplos ou triplos em relação aos preços oficiais e trocas de vantagens não menos difundidas. Nessas condições, os burocratas e mesmo os empregados da distribuição têm interesse em se manter e organizar a escassez. Podemos dizer até que quanto mais mercadorias chegam às lojas, menos são vendidas aos consumidores aos preços oficiais.



Tudo isso não é manifestamente resultado do planejamento "em si". É resultado de um planejamento pela burocracia, em proveito da burocracia. Podemos dizer até mesmo que é o resultado da falta verdadeira de planejamento.

Pois o verdadeiro planejamento socialista exige:

a) As massas populares determinarem o que é prioridade;
b) Existir a verdadeira democracia pluralista nas suas idéias, concepções para debater e assim se escolher um melhor caminho;
c) O que de fato é importante para produzir na vida econômica da nação.


Enfim, a livre escolha das prioridades pelas massas populares, a igualdade e a justiça social. São ideais comuns aos socialistas revolucionários e aos cristãos sinceros.

Aliás, temos de ter muita prudência com a fórmula de "falência" para a economia de países como a República Democrática Alemã – a EX- Alemanha Oriental, a extinta Tchecoslováquia ou a ex-União Soviética.

Os que falam de uma falência do socialismo não compreendem nada do que se passa no mundo há mais de 150 anos. Se há milhões de socialistas e de comunistas e centenas de milhões de sindicalistas, em todos os continentes, não é em função do que deu ou não certo na URSS, na China, na Europa oriental ou na Suécia. É porque a sociedade capitalista implica males insuportáveis, no nível do estômago, do coração ou do espírito. Os socialistas são produto do capitalismo e não dos êxitos ou fracassos relativos de qualquer "gestão alternativa do econômico”, seja a do stalinismo soviético ou a da social-democracia.

Enquanto o capitalismo subsistir, com suas contradições, suas crises e suas injustiças insuperáveis, haverá milhões de socialistas. A depressão econômica e social atualmente em curso, que agravou a miséria do Terceiro Mundo de modo desumano, estimula o desenvolvimento do socialismo em países como o Brasil. A recessão que se anuncia o estimulará do mesmo modo nas metrópoles imperialistas.

Quem pode acreditar que espíritos lúcidos e corações generosos não continuarão a se rebelar contra o fato de que todos os anos dezesseis milhões de crianças morrem de fome ou de doenças curáveis nos países do Terceiro Mundo? Isso mata tanta gente a cada cinco anos quanto durante toda a Segunda Guerra Mundial, incluindo Auschwitz e Hiroshima: a cada cinco anos uma guerra mundial contra as crianças...

Sem nenhuma dúvida, o desenvolvimento do movimento socialista e, sobretudo de sua ala revolucionária é freado hoje pelo fato de que, após a falência do stalinismo e o fracasso do reformismo, as massas não vêem soluções alternativas globais ao capitalismo "democrático". Tendem então a lutar essencialmente por objetivos imediatos.

 a última foto retrata no local a queda do muro de berlim, onde milhares de alemães derrubaram e finalizaram aquilo q ficou conhecido como o muro da vergonha!